terça-feira, 28 de maio de 2013

O outro lado da moeda, a saúde não é para mercenários!

Ao longo dos últimos dias, um debate está bastante em foco, em reportagens e eventos que expõem muitas das deficiências históricas que este país acumula, em especial na saúde e de forma mais aguda, nas periferias e regiões mais afastadas dos grandes centros.

Toda esta polêmica entorno da possível vinda de médicos de outros países, a exemplo de Cuba, serve ao menos para trazer luz sobre problemas sérios, em especial os relativos a falta de médicos e ao corporativismos da classe, e a uma postura desequilibrada e mercenária por parte de muitos profissionais.

Claro há muitos profissionais sérios e que trabalha com amor a profissão e servem a sua vocação e a população com dignidade, mas cada vez mais há uma visão exageradamente materialista nas atividades médicas, e uma enorme fuga destes profissionais de áreas menos nobres e onde o dinheiro não é farto.

Algo que perdura por décadas e a solução parece não vir de forma adequada e com prontidão.  

Muitas pessoas dos interiores e regiões afastadas, ou até mesmo oriundas das periferias, lotam diariamente consultórios e emergências nos grandes centros, é comum prefeituras e mesmo pessoas em grupos organizados por serviços de assistência social e ações filantrópicas, se deslocarem em ônibus, vans e ambulância em busca de atendimento médico, até mesmo os atendimentos básicos e não só os especializados são procurados.  Isto por conta da má distribuição da assistência médica pelo país, e da ausência destes profissionais em regiões afastadas, que tendem a se concentrar em capitais onde há uma demanda enorme pelos serviços e maior remuneração, fugindo do atendimento fora destes centros.

Há claro uma demanda por mais profissionais, mas muitos dos médicos recém formados que cursaram medicina em cursos e instituições concentradas nas capitais, formaram-se por instituições públicas, mas a maior parte permanece nas capitais atuando sobre tudo em hospitais e clínicas privadas.  Desde cedo concentram suas atividades nestes centros e evitam periferias e interiores do país, alguns atuando em diversos hospitais e clínicas simultaneamente, e mesmo quando financiados pelo Estado, não costumam ter uma visão social, cada vez mais rara e menos tratadas nas faculdades, construindo uma postura altamente comercial e até certo ponto mercenária.

Prefeitos pedem que governo contrate médicos estrangeiros - JuntospelasRedes

Falta de médicos em municípios da PB superlota hospitais da capital - CRMPB

Hospital federal tem fila quilométrica para marcar consulta - Veja 03.12.2012

Pessoas esperam na madrugada para conseguir consulta - CGN 11.11.2011

Outro aspecto da deficiência na saúde é a falta de profissionalismo e compromisso de muitos médicos!

Há algo que precisa ser posto na mesa, profissionais não são adequadamente preparados para assumir as suas responsabilidades para com a população, e agem como se a saúde do povo fosse produto mercantil!

O Conselho de Medicina tenta culpar o Governo, mas omiti as perspectivas comerciais cada vez mais amplas nas atividades médicas e que asfixiam uma visão humanística ou que equilibre a postura dos profissionais de medicina.  Tal perspectiva é reforçada com uma ação cartorial e corporativa muito intensa, que às vezes beira as vias da omissão e da cumplicidade.

Vejamos alguns cacos recentes:

Faltam médicos e pacientes esperam até 13h por atendimento em postos - Correio do Estado MS 28.05

Pacientes da rede pública do Rio morrem enquanto médicos vagabundos faltam plantões - Notícia Rio Brasil

Promotoria pede escala de plantões de médicos do Samu - Agora SP 13.03.2013


Médicos "furam" plantões em hospitais do SUS e prefeitura anuncia punição para eles - EM 04.03.2013

Secretário flagra ausência de médicos plantonistas - A Tarde - Bahia 14.01

Jorge Solla constatou que 49% dos profissionais escalados faltaram ao trabalho - Alberto Coutinho/GovBA

Médico do caso Adrielly não comparece a plantões há 5 anos em hospital do Rio - Último Segundo 11.01.2013

'Não me sinto culpado pelo que aconteceu a ela’, diz plantonista sobre morte de Adrielly - O Globo 07.01.2013

Situações como algumas destas relatadas também são comuns nos serviços de atendimento de urgência e emergências, aqui mesmo em Pernambuco no ano passado, outubro a dezembro, ortopedistas lotados em algumas das UPA's da RMR não compareciam a alguns plantões, em Olinda nós verificamos que durante semanas no mês de outubro de 2012 a UPA aos domingos não tinha ortopedista, e os casos que buscavam atendimento eram encaminhados ao Hospital Tri Centenário, diante da falta nem sempre justificada.

Sem falar nos muitos casos de falsos médicos, envolvendo ou não médicos habilitados, bem abaixo das vistas dos conselhos:

Há também uma certa negligência das autoridades públicas e dos Conselhos de Medicina, já que com documentação falsa ou até mesmo o número de matrícula no conselho cedidos ou emprestados (negociados) por médicos habilitados, muitos falsos profissionais atuam e lucram com a morte e a desassistência da população, é só ver reportagens como as seguintes, onde em alguns casos há médicos envolvidos com os fraudadores:

Marcel Carlos Nery se passava por pediatra com o
nome e registro de um médico de São Paulo
(Foto: Carolina Paes/G1)
Falso médico é descoberto em hospital de Mogi, diz polícia - G1 27.04

Alô Amazonas - 05/04/13 - Falso médico é preso no AM - Uol 05.04.2013

Mais uma um falso médico é preso no Amazonas - PortaldoHolanda 05.04.2013

Falso médico de Sorocaba, SP, pode ser indiciado por homicídio culposo - G1 13.12

Santa Casa diz que foi enganada por falso médico - DS 10.12.2012


CAÉM: FALSO MÉDICO ATUOU NO MUNICÍPIO POR TRÊS ANOS, DENUNCIA NOVO PREFEITO - Tribuna Livre

PR: além dos 5 presos, mais uma médica é indiciada por mortes em UTI - Terra 05.03.2013

Mortes no Hospital Evangélico - PR (www.terra.com.br)

Acadêmica de direito acusa médico de tentativa de abuso sexual - Diário da Amapá

Médico acusado de estupro também é investigado por manipulação genética em SP - Zero Hora 18.08.2009

Em situações como estas, nos perguntamos, como uma instituição médica hospitalar e demais "colegas" de medicina se deixam enganar por tanto tempo por alguém que simula ser um médico.  Se a responsabilidade e as más condutas de profissionais de medicina fossem acompanhadas e fiscalizadas (o que na maioria das vezes não ocorre), em hospitais e pelos conselhos, tais situações não ocorreriam com tanta incidência, mas  a omissão e a falta de vontade em acompanhar as atitudes dos profissionais levam a tais ocorrências, o corporativismo contribui para crimes!

Apesar de existir de fato problemas inerentes a falta de estrutura hospitalar no Brasil, em algumas regiões o contrário também ocorre, há estrutura mas simplesmente faltam médicos.

Os conselhos de medicina tem insistido numa posição corporativa, de interesse apenas da categoria em detrimento da população, pois mesmo que a falta de estrutura seja uma realidade em alguns hospitais, ou que em outros esta seja insuficiente a demanda da população e as necessidades dos médicos.  É oportuno salientar que muitas unidades hospitalares estão trabalhando acima de sua capacidade devido a falta de alternativa de saúde em suas regiões e cidades distantes.  A procura por médicos nas unidades dos grandes centros aumentam demasiadamente, e nem sempre a estrutura e os profissionais correspondem a demanda.

Em algumas localidades, em especial no interior, há unidades equipadas e implantadas mas sem profissionais, médicos e de enfermagem, no caso dos médicos faltam até profissionais que não atuam em especialidades onde a oferta de profissionais é menor.

Sem funcionários, hospital que custou R$ 62 milhões segue fechado há 4 meses no Piauí - Uol 21.09.2011

Hospital pediátrico da UFRJ fecha emergência por falta de médicos - Terceira Via 30.04.2013


Importar médicos do exterior, pode ser bom para atender parte da população que não é assistida?

Sobre a proposta de importação de médicos do exterior, é preciso salientar que diversos países, como Inglaterra, EUA, Austrália, já fazem a muitos anos.

Outro aspecto a considerar, é que muitos médicos de diversas nações costumam atuar em organizações internacionais em todo o mundo, a exemplo da Cruz Vermelha Internacional e Médicos Sem Fronteira, suprindo necessidades emergenciais ou atendendo áreas carentes, em programas e na assistência básica, sem restrições ou questionamentos a sua capacitação e habilitação.

O Brasil precisa atender as necessidades da população, em especial nas regiões interioranas, e não há como fazer sem o reforço de profissionais, cuja a formação é praticamente a mesma em todos as nações, e que estejam dispostos a atuar e se fixar em regiões pouco interessantes aos profissionais locais.  Claro respeitando-se alguns critérios básicos, um dos quais as questões de idioma e culturais e as relativas a abrangência da atuação.

Vemos que novamente o Conselho Federal de Medicina e demais entidades afins, tentam garantir uma reserva de mercado, pois diante de tantos problemas e de condutas tão ruins por muitos médicos, caem por terra os argumentos da qualidade dos serviços a ser prestado e do interesse da população.

Quem dispõem de planos de assistência médica/hospitalar, pode testemunhar já se deparou com médicos recém formados e que prescrevem tratamentos e medicações de forma irresponsável, ou mesmo sem qualificação técnica. Não raro nos colocamos em situações, que na rede pública ainda são mais grave, pois são acrescidas da negligência profissional e a erros de profissionais que mesmo experientes, trabalham mal.

Certamente que poderão ocorrer incidentes com médicos de fora, mas o caso é que estes são muito mais comuns aqui, com médicos e profissionais pouco qualificados e que geralmente não são punidos.

Pedro Saraiva: Sobre a vinda dos 6.000 médicos cubanos - Pedro Saraiva 09.05.2013

A questão da vinda dos médicos cubanos para o Brasil - Advivo 08.05.2013

Brasil acumulou deficit de 54 mil médicos na última década - Douradonews 23.05

Diante de um deficit de 54 mil médicos, há ainda uma forte ação corporativa no CFM, Conselho Federal de Medicina, enquanto a prática e contratação de médicos estrangeiros é relativamente comum em vários países da Europa e nos EUA.

Mais de 11% dos médicos inscritos são estrangeiros - Observatório da Imigração 2009

Artigo de Padilha, na Folha, sobre médicos estrangeiros - Luis Nassif 18.05

A vinda de médicos estrangeiros não é sem critérios, ou muito menos sem uma avaliação técnica e de capacidade, mas ao contrário do que defende o CFM, não implica na necessidade de revalidação do diploma.  Médicos cubanos, portugueses, espanhóis, etc, possuem um conhecimento numa área universalizada, não podem ser tratados como profissionais de segunda categoria.

É hora da sociedade brasileira receber assistência médica em todas as regiões e localidades brasileiras, e não ser apenas um benefício para poucos, concentrado em algumas áreas e voltado para aqueles que tem melhor poder aquisitivo ou residem em grandes centros, e mesmo com dificuldades dispõem de uma alternativa de assistência médica.


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